Prezado cotista,
É importante fazer uma
revisão dos acontecimentos desse primeiro semestre de 2015 e também falar um
pouco sobre a nossa expectativa para o restante do ano.
Dentre os principais
acontecimentos, a maioria foi negativa. Apesar disso, se olharmos somente para
as Bolsas de Valores, teremos impressão de que tudo foi tranquilo e que as
economias estão indo bem.
Começamos com o segundo
mandato da presidente Dilma. Com ele, vieram supostos cortes de gastos e uma
série de aumentos de impostos e tarifas reais (energia, água, transporte,
pedágios, etc).
Para não dizer que algo ruim
não pode piorar, tivemos - e ainda temos - o risco de apagão no país, com a
falta de chuvas (“ainda bem” que o país realmente não está crescendo, senão
certamente iríamos ter um apagão).
Claro, como as contas
brasileiras não melhoram, os déficits aumentam, assim como as taxas de juros e
o país ainda sofre com uma possível perda de rating pelas agências de risco – o mercado já rebaixou o Brasil, mas as
agências ainda não...
Com as taxas de juros altas,
setores como consumo e moradia sofrem bastante. Isso vai se retroalimentando,
piorando ainda mais a situação do país.
No front europeu, finalmente
em 2015 começou o tão esperado QE (Quantitative
Easing) – ou, como é mais conhecido, impressão desenfreada de dinheiro. A
esperança era de que esse QE fosse trazer prosperidade à Europa. Como já
havíamos previsto, tal prosperidade não veio e será ainda mais atrasada por causa
desse QE, que tem consequências drásticas na economia dos países.
Como dizia Albert Einstein,
loucura é fazer a mesma coisa várias vezes e esperar resultados diferentes.
Pois o BCE (Banco Central Europeu) fez a mesma coisa que o Japão vem fazendo há
décadas e que os EUA começaram após a crise de 2008, na esperança de que “dessa
vez funcione”. Sentimos desapontá-los, mas é muito óbvio que não funcionará,
assim como não funcionou nos EUA ou no Japão.
Se a impressão de dinheiro e
juros baixos funcionasse, os EUA já teriam saído da crise há anos, assim como o
Japão. Infelizmente, o que esses programas realmente fazem é aumentar as
desigualdades sociais e postergar um crash (que será muito pior no futuro).
O que o mundo realmente
precisa é de juros altos e dinheiro com valor, exatamente o contrário do que
estamos vivenciando.
E, já que mencionamos os
EUA, what a surprise!!! Não houve
aumento nas taxas de juros desse país em junho. Estamos dizendo isso há anos,
não há como aumentar as taxas, já que a economia não está se recuperando (nem
vai se recuperar com juros zero, como mencionamos acima). É importante
ressaltar que há 2 anos, era certa a subida de juros no meio de 2014; depois
passou para o terceiro trimestre de 2014, depois para o final do ano; depois
para o primeiro trimestre de 2015; em seguida, o segundo trimestre de 2015.
Agora já se fala em setembro ou no final desse ano. Incrível a capacidade das
pessoas de se auto enganarem.
Obviamente, não estamos defendendo a política de juros zero e QE, muito pelo
contrário, mas achamos que o FED não vai subir os juros (e se o fizer, será
muito pouco e de forma muito gradativa) por um bom tempo.
Aproveitando o gancho dos
EUA e também a vontade das pessoas de se auto enganarem, é importante mencionar
o tão esperado acordo nuclear entre EUA e Irã. Mais uma vez, não houve
compromisso e acreditamos que essa história ainda vai se prolongar por um bom
tempo.
Também tivemos a prorrogação
do semi-conflito entre Rússia e EUA, ops, Ucrânia. Não acreditamos em uma
solução rápida e esse semi-conflito pode complicar as coisas na região, além de
trazer outros países para o centro da disputa.
Para nós, o mais divertido
(se é que podemos falar assim) é ver como funciona a relação entre os países na
Europa no momento. O FMI já disse que vai emprestar dinheiro à Ucrânia
incondicionalmente. Com esse dinheiro, a Ucrânia pode pagar à Rússia o aumento
do gás para sustentar suas fábricas e aquecer seus lares. Com esse recurso a
mais, a Rússia pode emprestar à Grécia, que por sua vez paga o FMI. No final,
tudo dá certo (esperamos).
Já que mencionamos a Grécia,
vale a pena falar do assunto da moda: o default grego. Como amplamente esperado
por nós (mas não pelo mercado), a Grécia não pagou a parcela vencida no final
de junho ao FMI. Isso deflagrou uma venda desenfreada pelos mercados, com a
possibilidade bastante real de esse país sair da Zona do Euro.
Com isso, a moeda europeia
caiu em relação ao dólar (e só não caiu mais porque o Banco Nacional da Suíça –
e grande acionista da Apple atuou
fortemente na compra de euros). Na nossa opinião, se um país endividado e com
baixas perspectivas sair da Zona do Euro, era de se esperar que a moeda se
valorizasse, já que permaneceriam na União somente os países considerados mais
“fortes”. Obviamente o mercado não pensa assim...
Completando nosso giro pela
Europa, terminamos na Inglaterra. Por lá, há uma grande especulação sobre a
saída da Inglaterra da Comunidade Europeia (Brexit).
Vamos aguardar e manter os olhos abertos.
Indo diretamente ao outro
lado do mundo, onde achamos que há um perigo financeiro muito maior que na
Europa, chegamos ao Japão. Abenomics, como já dissemos milhares de vezes, não
tem funcionado (e nem vai). A dívida japonesa atinge níveis estratosféricos e o
governo já gasta quase metade da arrecadação somente para pagar juros (cujas
taxas são bem próximas de zero). Com o envelhecimento da população, os
problemas japoneses irão se acentuar. É dificílimo prever quando estourará essa
crise, mas a consideramos a mais perigosa no momento.
Pulando de uma bolha para
outra, chegamos à segunda maior economia do mundo: China. Lá os mercados de
ações subiram mais de 100% nos últimos 12 meses, sendo que a economia está
desacelerando. Muita gente já está pedindo um QE chinês, para ajudar a levantar
os preços das ações (aliás, inflação de ativos é uma das poucas coisas que os
QEs atingem com formidável sucesso). Nas últimas duas semanas, as Bolsas
chinesas despencaram e “destruíram” mais de US$2.5 trilhões em ganhos.
Por último, gostaríamos de
mencionar um grande problema nas Américas: Porto Rico. Esse estado americano
decretou moratória há alguns dias, dizendo que é impossível pagar suas dívidas
(e realmente acreditamos nisso).
A experiência é uma
excelente professora. É importante lembrarmo-nos da crise de 2008, que foi
muitas vezes pior do que o baque financeiro nos imóveis, devido à exposição
mundial a derivativos.
O que as contas fora do
balanço não mostram é onde mora o perigo. CDSs podem ser acionados com pequenos
defaults, como os da Grécia e de Porto Rico, causando um estrago de proporções
infinitamente maiores que seus respectivos ativos.
A dívida do mundo hoje é
muito maior do que era em 2008. Os derivativos, então, são múltiplos do que
eram. Não há dinheiro no mundo para cobrir toda essa exposição e uma pequena
fagulha pode mandar tudo para os ares.
A única saída para os Bancos
Centrais é inflar ainda mais a base monetária, causando uma hiperinflação em
várias partes do mundo.
Mais e mais pessoas vão
descobrir que a situação mundial está precária e que devem ter uma boa dose de
diversificação e muitos ativos reais.
Continuamos recomendando a compra física
de metais preciosos e sugerimos que o façam enquanto eles ainda estão baratos e
ninguém os quer. Afinal, quando todos os quiserem, será tarde demais.